Ensaio sobre Dulce
- mardeafectos
- 2 de jun.
- 2 min de leitura
Sinto uma necessidade chata e autoritária de me repetir. Talvez porque me entenda como um ser cósmico, empoeirado de estrelas, vagando entre outros da minha espécie — dizendo palavras em um idioma que talvez seja reconhecido por poucos, com o desejo ambicioso de alcançar grandes camadas.
Repito: minha luta não é pela “causa animal” — essa ditada pelos seres urbanos que dicotomizam o homem dos demais animais. A minha luta é pela humanidade, no sentido conjuntural dos seres viventes que habitam esta esfera planetária.
Tal escolha se esclarece à medida que afirmo: tornei-me psicóloga porque o ser humano era meu animal favorito. E, quanto mais me relaciono com outras espécies, mais entendo que estar ao lado delas nos liberta enquanto humanos.
Lutar pelo e com o animal-não-pessoa é lutar também pela causa do animal-pessoa. Afinal, é a luta pelo amar. E amar é um ato revolucionário.
Não há nada mais revolucionário do que simplesmente se relacionar integralmente — no sentido de se permitir enxergar o mundo do Outro tal como ele é, completamente diferente do seu, e ser vista por esse outro, entregando-se aos limites, rejeições, compatibilidades e à união que transcende o egóico.
É fácil amar — assim como é bem difícil desamar — dentro da obrigatoriedade dos laços sanguíneos, em uma estrutura sociocultural em que o amor é um jogo de poder e perpetuação de modos de existência. É fácil amar quem se parece contigo, quem faz parte do seu grupo de origem ou quem você escolhe para formar seu próprio círculo — como se essa validação do amor fosse a única resposta possível à libertação diante das privações e da mercantilização dos corpos.
Porém, meu caro leitor, quando nos entregamos a uma relação sem interesses lucrativos com alguém que desafia a lógica do que vivemos, e estamos ali, numa condição total de entrega e recebimento, por meio do companheirismo existencial...
Aí, meu amigo, sentimos a revolução.
Porque essa revolução começa com uma ruptura interna das crenças da binaridade cultural. Pois, ao olhar para um cachorro, um gato, um coelho, uma formiga, um louva-a-deus — e até uma barata — e reconhecer neles uma vida semelhante...
Transformamos o paradigma relacional com os outros de nossa própria espécie.
E nunca mais vamos querer estar em relações ou sistemas que exijam modos de vivência anti-vida.
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