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Ensaio sobre formigas

Tenho pensado em formigas. Tenho estado-formigas.


O processo se iniciou quando li uma matéria de revista sobre as formas de trabalho no formigueiro e as relações dos animais entre si. Poucos dias depois, tive o privilégio de observar, em um restaurante de rua, uma fila de formigas em seu destino.


De repente, meu olhar se direciona ao que estudiosos e não estudiosos chamam de pragas: abelhas, besouros, baratas, moscas, mosquitos. Todos ali, reexistindo em uma esfera maníaca por limpeza, antibacteriana e germiniana.


Os idiomas humanos, em seu papel delimitador e antropocêntrico, dividiram as ordens sociais das formigas — e das demais espécies — de acordo com a estrutura ocidental, eurocêntrica e sua ciência cultural.


No artigo, lia sobre a complexidade das relações animais. As formigas não precisam de ordens para executar seus serviços. Cada integrante sabe e reconhece seu papel social dentro do formigueiro por meio da comunicação com as outras companheiras.


De forma autogerida, elas se organizam, ensaiam e criam construções de dar inveja a qualquer um da nossa cultura racionalista.Não me refiro à espécie, pois dentro de nosso território brasileiro existem formas e estruturas semelhantes às das formigas, que resistem ao extermínio — assim como as sobreviventes da Natureza Urbana.


Divago, nos meus pensamentos desconexos, selvagens e pouco acessados pelos demais. Será que a estrutura da minha família e dos meus projetos se dá como a das formigas?


Cada ser em seu espaço, reconhecendo-se a si no seu fazer e dialogando constantemente com o Fazer do outro.Tal modelo se mostra contraintuitivo para nós, humanos urbanos criados nos ambientes higienizados de álcool 70%. No entanto, é possível. E, sem competir, sem incertezas, cada um sabe exatamente seu papel para o funcionamento desse espaço.


Retornando às formigas — como é interessante que nosso imaginário as coloque como bruxas! Associadas à doença, à sujeira, a algo que deve ser exterminado.Talvez a relação socioafetiva, imaginária e simbólica com as formigas seja, de fato, um reflexo cultural de relações autoritárias que temem o poder do cuidado coletivo.


Estejamos todos formigas.

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Prazer, a humana.

Olá, meu nome é Marcela Figueiredo, sou psicóloga, artista, arteterapeuta e autista.

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