Empatia seletiva
Semana passada, nos chocamos com o crime que ocorreu no Paraná contra 23 animais. Me surpreende que esteja sendo tão pouco repercutido este episódio fatídico. No máximo, surgiu uma trend de apelo emocional dizendo “não são 23 animais, se fossem esses, teria muita gente chorando” (algo do tipo, não exatamente essas palavras). O curioso é que geralmente a trend retratava cachorros e gatos.
Esse fato tem me feito questionar: se fossem cachorros e gatos, a repercussão seria muito maior, não é? Isso apenas elucida como nos relacionamos por meio de utilitarismo. Nós, enquanto seres humanos, temos uma empatia utilitária. Temos empatia por quem nos é próximo e pode ser útil para a gente, para quem está distante da nossa realidade, nos importamos menos.
A relação utilitária também perpassa pelo relacionamento homem e animal. Com seres humanos, nos importamos mais com quem é parecido conosco, com animais, primeiro fazemos a divisão hierárquica entre homem e animal e depois, uma hierarquia com os próprios animais.
Em 2013, um grupo de ativistas invadiu uma empresa que realizava testes em beagle, uma raça de cachorro muito popular e fofa. Na época, o mesmo lugar também realizava maus tratos e testes em ratos. Advinha quem ficou esquecido? Exatamente, os ratos. O grupo retornou para o resgate dos roedores apenas quando gerou um debate acalorado – e também memes – diante do ocorrido.
Sem contar a tragédia do RS, em que até o momento me pergunto onde estão as galinhas, os coelhos, os porquinhos da índia e também, a noção daqueles que reduziram a morte dos animais apenas ao prejuízo econômico. Nossos corpos, em nossa sociedade, são qualificados e precificados moral e economicamente. Infelizmente, a vida desses coelhos e porquinhos da índia ficou em segundo plano, esquecidos.
Não acredito que seja de nossa espécie essa empatia seletiva, e sim que seja algo desenvolvido culturalmente. E a cultura é dinâmica. Para isso, precisamos nos lembrar: essas 23 vidas importam tanto quanto qualquer outra espécie. Que a justiça por esses animais seja feita, a fim de valorizar e honrar a existência deles, e a gente iniciar um processo de empatia genuína, enquanto espécie.
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