A vida tem seus milagres
- mardeafectos
- 9 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
A convivência com peixes é desafiadora. Em um ano de tantas perdas, de repente, a vida oferece um milagre.
Estava na minha rotina matinal, que inclui alimentar todos os animais e contar quantos peixes há no lago. Como uma boa humana zelosa, para além de apenas contabilizar, passo alguns minutos analisando cada peixe: observando o nado, a cor, a interação entre eles e qualquer mudança de comportamento.
Aquele não era para ser um dia diferente, até que foi. Estava ali, encucada, esperando Tigrinha, Lulu, Helena e Maria aparecerem, já que apenas Amora exibia seu comportamento habitual. De repente, vi pequenas sombras no fundo do aquário.
Completamente incrédula e tomada pela curiosidade, aproximei meu rosto o máximo possível da caixa d’água para entender o que estava acontecendo. Eis que o milagre se fez diante dos meus olhos: havia três alevinos comendo as rações do café da manhã.
Não demorou nem dois segundos para eu sair correndo pelo pátio aos berros: “Eu sou avó! Eu sou avó!”. Ao mesmo tempo em que celebrava, fui invadida por um leve desespero: “Mais três peixes para cuidar. Como isso aconteceu? Não era para eles comerem os ovos? Caramba, se eu quisesse que isso acontecesse, não teria acontecido!”.
Quantas vezes tentei cuidar desses peixes? Quantas vezes fiz o possível e o impossível para que vivessem? Para que tivessem uma vida digna? Quantas vezes chorei por me sentir uma péssima cuidadora? Quanta culpa carreguei pela morte deles?
E, assim, como num sopro, a vida surge. A verdade é que, no limiar entre a vida e a morte, não há explicação nem controle. Tentamos explicar a morte, mas isso é algo em vão, uma perda de energia vital. A morte é inexplicável e sem sentido para quem está vivo. A vida, por outro lado, tentamos teorizar e entender a qualquer custo. Porém, na realidade, ela é um acontecimento. A vida simplesmente acontece. E nós ficamos ali, entregues à ausência de controle e celebrando os presentes que ela nos dá.
Quanto mais esforço e controle colocamos para manutenção da vida, mais caminhamos para o fim. Quanto mais lutamos para que algo permaneça: seja uma relação amorosa, familiar, amizade ou trabalho, mais caminhamos para o fim dessa relação – ou o fim de nós mesmos.
A natureza nos ensina que a vida flui, que a vida acontece e que, mesmo com as dores, ainda encontramos motivos para sorrir e celebrar.
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