Como nossos pais, finalmente.
Depois de trinta anos, acredito que finalmente entendo meu pai.
Hoje fui à pet shop fazer a compra do mês dos gatos e, como sempre, chamei a atenção dos vendedores pelo tamanho do carrinho. Afinal, há quem faça o rancho — como dizem aqui no Sul — no supermercado; eu faço o rancho na pet shop."A gente reclama, mas a gente ama, né?", disse a moça do caixa com pesar e assombro ao ver o valor da minha compra. E eu respondi, com paz no coração: "Pior que eu nem reclamo, sabia?""Não?", perguntou ela, surpresa."Não", respondi.
Em casa, enquanto organizava os sachês nas gavetas, percebi: "De tudo em que eu poderia me parecer com meu pai, com certeza, essa é minha maior característica."Sempre vi meu pai trabalhando muito para me dar do bom e do melhor. Ele era aquela pessoa descrita por muitos como "honrada", que colocava as necessidades dos filhos acima das suas. E, ao observar isso, sempre me senti muito culpada, acreditando que meu pai não viveu a própria vida para poder cuidar de mim.
Hoje, todos me olham de maneira estranha, como se eu não vivesse minha vida para dar conforto aos animais não humanos que habitam esta casa. E é engraçado, porque em nenhum momento sinto desgosto pelos gastos que eles me trazem, nem me arrependo disso; muito pelo contrário: meu medo é não ter como prover.E acho que meu pai foi assim. Ele foi tão generoso que, em nenhum momento, reclamou dos meus gastos, porque, para ele, eu nunca fui um investimento; eu sempre fui sua filha. Meu pai me ensinou esse amor genuíno, que, tenho certeza, ele aprendeu do meu avô.
Hoje, não me sinto mais culpada. Sinto-me agradecida. Agradecida por cada gesto de amor que ele me deu. Infelizmente, eles não estão mais aqui para que eu possa agradecer pessoalmente. No entanto, ainda bem que o sagrado humano inventou a arte, porque posso deixar esta carta escrita para eles e dizer: "Vô, pai, eu entendo vocês e estou fazendo exatamente o que me ensinaram. Obrigada por tanto. Amo vocês, saudade."
Finalmente, sinto que estou no caminho certo e posso dar orgulho a vocês.Amo você, pai.Amo você, vô.
Sem mais culpa,
Sua filha e neta,Marcela.
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