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Irresponsabilidade financeira é o forte

Minha irresponsabilidade financeira é equivalente à minha responsabilidade perante a vida. Essa foi a frase que me veio à cabeça com a chegada de Caetano.Financeiramente falando, a última decisão responsável seria agregar mais um animal, ainda mais considerando todos os cuidados que um resgate requer. Ainda não me sinto confortável com a palavra "resgate", mas, como não encontrei nenhuma substituta, esta será a escolhida para descrever a chegada do novo coelho.


Caetano chegou xoxo e capenga, com dores, desidratado e outras questões de saúde. Logicamente, escolher cuidar de mais uma espécie não é uma decisão racional; é puramente sensível.Porém, infelizmente, não é de sensibilidade que o mundo se movimenta. A chegada de Caetano me revelou algo inédito sobre mim: como sou segura das minhas escolhas.Monto lojinha, abro espaço na agenda, faço encomendas, me desdobro em quarenta mil. E, se for preciso, eu me desdobro em noventa mil para arcar com as responsabilidades das minhas decisões. Não temo críticas, não me paraliso diante do medo. Eu vivo, apesar das escolhas completamente absurdas que faço para dar sentido à vida.


Quando escolhi acolher Caetano, sabia que estava ultrapassando os limites do razoável para a minha realidade financeira. Essa decisão não foi tomada com leveza, mas com o peso de entender que a vida muitas vezes exige escolhas que não cabem em planilhas ou lógicas econômicas. Foi um risco, e continuo sentindo suas implicações diariamente. Há noites em que me pergunto se realmente conseguirei equilibrar tudo: as contas, os cuidados, meu trabalho e, claro, minha própria saúde.


A decisão de viver com tantos bichos não é só sobre amor; é também sobre cansaço, frustração e uma certa teimosia em resistir ao que me dizem ser possível. Nem sempre dou conta de tudo sozinha. Preciso de redes de apoio, de tempo para reorganizar meus planos e de momentos de introspecção para reafirmar meus valores.


Quando vejo Caetano saltar, sinto um alívio e uma alegria que parecem justificar todo o esforço. Mas sei que essa visão romantizada só é possível porque há uma rede invisível de esforços que me sustentam: amigos que me apoiam, um trabalho que, mesmo instável, ainda me permite escolhas, e a coragem de assumir que não tenho todas as respostas. Minha história não é sobre "dar conta de tudo", mas sobre persistir em construir algo significativo, mesmo em um mundo que não prioriza a sensibilidade ou a criatividade como forças transformadoras.


Quando me relaciono com Caetano, sinto o aconchego no coração de que fiz a escolha certa. Quando o vejo saltar — algo que demorou bem mais do que o desejado —, tenho certeza de que "darei um jeito". Talvez isso seja um olhar otimista, até utópico e romantizado. Admito.


Mas eu banco meus romances.


Eu escrevo minha história. Não é à toa que sou escritora.


Nem sempre nossas escolhas estarão alinhadas com o que a sociedade propõe. Nem sempre seremos vistos com bons olhos. Acredito que todas as minhas decisões sejam, de certa forma, à deriva. Me recuso a mostrar os animais adoecidos. Não acredito que isso seja digno e não quero que meu trabalho se baseie na pena ou na doença.


E eu sei que é isso que move. As pessoas adoram a sensação de ajudar e salvar. Sei que, financeiramente falando, seria muito mais eficiente ceder a essa estratégia. Não obstante, acredito que a criatividade é saúde. É o olhar da saúde. É o bem-estar, o vínculo, a relação. E isso requer tempo.


Muito tempo, mais do que um minuto e meio de vídeo. E isso, infelizmente, não vende.


Por isso, acredito que a arte é esse espaço onde deságua tudo aquilo que une o bicho gente e o bicho bicho. A arte é o canal da vida.

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Prazer, a humana.

Olá, meu nome é Marcela Figueiredo, sou artista, autista, psicóloga e arteterapeuta responsável por uma linda - e enorme - família multiespécie. Seja bem-vinde ao nosso mundo.
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