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A morte é impotente, o morrer abre mil possibilidades.

Era para ser mais um dia de rotina quando a veterinária lê o resultado dos exames: “Sassá é fiv e felv positivo e precisa de uma bolsa de sangue urgente.”


“Que resgate inusitado!” pensei aflita.


Para quem não sabe, a felv é a leucemia felina, e a fiv, em parâmetros humanos seria como a “aids" nos gatos.


Após esse pequeno pesadelo para todo gateiro. Meu cérebro se transportou imediatamente às mais diversas possibilidades terapêuticas que poderia oferecer à Sassá.


Para quem está de fora é absurdo entender o porquê de pegar mais uma responsabilidade. No entanto, cada animal que passa pela minha vida me remete a um entendimento criativo, artístico e filosófico: “Não é sobre mim. E sim, comigo.”


Não é sobre salvar o animal, e sim: como posso fazer para proporcionar existência para aquele ser?


Essa pergunta martelou minha cabeça constantemente. Cada vez que comentava com alguém o estado do Sassá, a pessoa me entregava um olhar desesperançoso e frases como: “felv é sentença” “não há nada o que fazer”, “ele já vai morrer mesmo, se prepare” surgiam despropositalmente.


"Um suco do absurdo!" Me revoltava "Como ousam banalizar a vida dele assim?" Disparava raivosa na primeira oportunidade.


Como alguém que já conversou com a morte o suficiente, afirmo: quem banaliza a morte, banaliza a vida. É justamente porque a morte é impotente, que o morrer permite a criação de mil possibilidades. O morrer abre a porta para o questionamento: “como queremos e podemos viver agora?”. É no morrer que nos deparamos com a possibilidade de re existir em nossa essência criativa.


Longe de mim esperar que Sassá se cure, afinal, são duas doenças sem curas! Espero, genuinamente, que viva. Que aproveite cada segundo de sua magnífica existência.


Felv não é sentença de morte, é sentença cuidado, sentença carinho.


Desde então, Sassá tomou sua bolsa de sangue, começou a fazer Moxa, toma CBD e tem uma alimentação rica e balançada. O gato que antes não tinha energia nem para se limpar, agora toma sol, se esconde em caixas de papelão e faz gatices como qualquer outro gato. Ele vive.


Cada grama a mais é uma conquista, cada piscada diferente é um aperto no coração. Cada banho de sol derrete o coração. Sassá, esperto só como um animal pode ser, me ensina todos os dias é que devemos desbanalizar a vida, para poder viver e morrer com dignidade e essência.


E é uma honra poder estar ao lado dele.

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Prazer, a humana.

Olá, meu nome é Marcela Figueiredo, sou artista, autista, psicóloga e arteterapeuta responsável por uma linda - e enorme - família multiespécie. Seja bem-vinde ao nosso mundo.
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